De Monergismo
“Quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E,
inclinando a cabeça, entregou o espírito” — João 19:30.
Quão terrivelmente estas benditas palavras de Cristo têm
sido mal-entendidas, mal-apropriadas e mal-aplicadas! Quantos parecem pensar
que, sobre a cruz, o Senhor realizou uma obra que torna desnecessário que os
beneficiários dela viva vidas santas sobre a terra. Muitos têm sido enganados
com o pensamento de que, até onde diz respeito o se alcançar o céu, não importa
como eles andem, desde que eles estejam “descansando sobre a obra consumada de
Cristo”. Eles podem ser infrutíferos, desonestos, desobedientes, todavia,
conquanto que eles repudiem toda justiça própria e tenham fé em Cristo, eles
imaginam que estão “eternamente seguros”.
Ao redor de todos nós há pessoas que são mundanas,
amantes do dinheiro, buscadores-do-prazer, quebradores do Dia do Senhor, mas
que pensam que tudo está bem com elas, pois “aceitaram a Cristo como seu
Salvador pessoal”. Em sua aspiração, conversação e recreação, não há
praticamente nada que os diferencie daqueles que não fazem nenhuma profissão de
fé. Nem em sua vida familiar ou social há algo, exceto pretensões vazias, para
distingui-los dos outros. O temor de Deus não está sobre eles, os mandamentos
de Deus não têm autoridade sobre eles, a santidade de Deus não os atrai.
“Está consumado”. Quão solene é perceber que estas
palavras de Cristo devem ter sido usadas para tranqüilizar milhares com uma
falsa paz. Todavia, tal é o caso. Nós temos tido contato próximo com pessoas
que não têm nenhuma vida de oração privada, que são egoístas, cobiçosas,
desonestas, mas que supõem que um Deus misericordioso fará vistas grossas para
tais coisas, desde que eles tenham alguma vez colocado sua confiança no Senhor
Jesus. Que horrível perversão da verdade! Que transformação da graça de Deus
“em libertinagem”! (Judas 4). Sim, aqueles que agora vivem as vidas mais
egoístas e agradáveis à carne, falam sobre sua fé no sangue do Cordeiro, e
supõem que estão salvos. Como o diabo os tem enganado!
“Está consumado”. Estas benditas palavras significam que
Cristo satisfez de tal forma o requerimento da santidade de Deus, que mais
nenhuma santidade tem qualquer reivindicação real e premente sobre nós? Deus
não o permita pensarmos tal! Até mesmo para o redimido Deus diz: “Sede santos,
assim como Eu sou Santo” (1 Pedro 1:6). Cristo “magnificou a lei e a fez
honrosa” (Isaías 42:21), para que pudéssemos ficar sem lei? Ele “cumpriu toda
justiça” (Mateus 3:15) para comprar para nós uma isenção de amar a Deus com
todo o nosso coração e servi-Lo com todas as nossas faculdades? Cristo morreu
para assegurar uma divina indulgência, para que pudéssemos viver para agradar a
nós mesmos? Muitos parecem pensar assim. Não, o Senhor Jesus deixou ao Seu povo
um exemplo para que eles pudessem “seguir (não ignorar) os Seus passos”.
“Está consumado”. O que está “consumado”? A necessidade
dos pecadores se arrependerem? Deveras não. A necessidade de se voltar dos
ídolos para Deus? Deveras não. A necessidade de mortificar os meus membros que
estão sobre a terra? Deveras não. A necessidade de ser santificado
completamente, no espírito, alma e corpo? Deveras não. Cristo não morreu para
fazer minha tristeza, meu ódio e o meu empenho contra o pecado desnecessários.
Cristo não morreu para me absolver de todas as minhas responsabilidades diante
de Deus. Cristo não morreu para que eu pudesse continuar retendo a amizade e
comunhão do mundo. Quão extremamente estranho é que alguém possa pensar que Ele
tenha feito isso. Todavia, as ações de muitos mostram que esta é a sua idéia.
“Está consumado”. O que está “consumado”? Os tipos
sacrificiais foram consumados, as profecias de Seus sofrimentos foram
cumpridas, a obra dada a Ele pelo Pai foi perfeitamente realizada, um
fundamento certo foi posto, no qual um Deus justo pode perdoar o mais vil
transgressor da lei que jogou as armas de sua guerra contra Ele. Cristo já
realizou tudo o que era necessário para que o Espírito Santo viesse e operasse
nos corações do Seu povo; convencendo-lhes de sua rebelião, destruindo sua
inimizade contra Deus, e produzindo neles um coração amoroso e obediente.
Oh, querido leitor, não cometa engano neste ponto. A
“obra consumada de Cristo” não lhe beneficia em nada, se o seu coração nunca
foi quebrantado através de uma consciência agonizante de sua pecaminosidade. A
“obra consumada de Cristo” não lhe beneficia em nada, a menos que você tenha
sido salvo do poder e da poluição do pecado (Mateus 1:21). Ela não lhe
beneficia em nada, se você ainda ama o mundo (1 João 2:15). Ela não lhe
beneficia em nada, a menos que você seja uma “nova criatura” nEle (2 Coríntios
5:17). Se você valoriza sua alma, examine as Escrituras para ver por si mesmo;
não tome nenhuma palavra de homem no lugar disso.
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