Joseph R. Nally
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
Pergunta:
Eu estava lendo o artigo “Qual é a Igreja Verdadeira” em
seu website, e fiquei realmente boquiaberto de você dizer que os católicos
romanos são parte da igreja verdadeira, embora a doutrina deles possa estar
incorreta… a doutrina DELES não é a bíblia, mas o que o papa interpreta… Eles
adoram Maria. Oram à Maria… Estou simplesmente estupefato em ver isso como Reformado!
Resposta:
Creio que o artigo ao qual você se refere está
referenciado abaixo.
Nós concordaríamos com você que existem muitas diferenças
significantes entre o Calvinismo e o Catolicismo Romano. Ra McLaughlin destacou
algumas grandes em outro artigo (copiado abaixo):
Fé, Obras e Justificação: O Calvinismo ensina que somos
justificados pela fé, à parte das obras (Rm. 3:20-28; 4:1-5; 9:30-32; Gl. 2:16;
3:1-14), mas que uma vez que cremos com a verdadeira fé, necessariamente
praticamos as boas obras como resultado (Ef. 2:8-10; Tg. 2:14,17). O
Catolicismo ensina que somos justificados pela fé e pelas boas obras que emanam
dessa fé (Tg. 2:21-22). O Concílio de Trento (Católico Romano) anatematizou
essa visão calvinista.
Definição de Justificação: Parte da discórdia entre os calvinistas e os católicos
romanos sobre a questão da relação entre fé, obras e justificação deriva-se de
um desentendimento sobre a definição de “justificar”. Os católicos romanos
geralmente argumentam que justificar alguém é reconhecer que a pessoa realmente
é justa. Assim, eles lêem Tiago 2:21-22 como ensinando que Abraão alcançou um
ponto de justiça real quando passou pelo teste de se dispor a sacrificar seu
filho Isaque em Gênesis 22. Os calvinistas, por outro lado, reconhecem duas
definições para “justificar” (a maioria das palavras possuem mais de um
significado), visto que ela algumas vezes significa “vindicar” ou “validar” e
algumas vezes “considerar uma pessoa como se ela fosse justa, embora não o seja
na verdade”. Por exemplo, quando Abraão creu em Deus, Deus considerou Abraão
como se ele fosse realmente justo (Gn. 15:6), embora ele não tivesse feito
nenhuma boa obra depois de crer. Os calvinistas ensinam que o único verdadeiramente
justo o suficiente para ser salvo foi o próprio Cristo (Rm. 3:9-20; 5:15-19), e
que Cristo compartilha seu estado de “justo” com aqueles que estão unidos a ele
pela fé (Gl. 3:17-29). A primeira definição, “vindicação”, é uma que os
calvinistas aplicam a Tiago 2:21-22. Os calvinistas crêem que o contexto em
Tiago 2 não está contrastando, por um lado, a verdadeira fé mais as boas obras,
e, por outro lado, a verdadeira fé sem obras. Antes, os calvinistas argumentam
que Tiago está contrastando dois tipos de fé, uma que produz boas obras (fé
verdadeira) e uma que não produz boas obras (fé falsa). “Vindicação” parece ser
a melhor definição nessa passagem, de acordo com os calvinistas, pois Abraão já
tinha sido reconhecido como justo quando creu em Deus em Gênesis 15 – muito antes
de Deus “testar” (Gn. 22:1) sua fé. O teste era determinar se a fé de Abraão
era ou não verdadeira (Gn. 22:12), não fazer com que Abraão praticasse boas
obras suficientes para adquirir sua justificação.
Predestinação:
Calvinistas sustentam a visão da predestinação ensinada por S.
Agostinho. Os católicos romanos sustentam uma versão modificada da visão de S.
Agostinho. Especificamente, os calvinistas crêem que Deus predestinou quem ele
quis predestinar, sem consideração dos méritos das pessoas predestinadas. Os
católicos romanos ensinam que a predestinação foi de certa forma condicionada
aos méritos daqueles predestinados.
A Igreja e a Sucessão Apostólica: Os católicos romanos
ensinam que a Igreja Católica Romana é a única igreja verdadeira, e que o papa
é a suprema autoridade sobre a igreja, tendo recebido sua autoridade por
sucessão apostólica direta de Pedro. Os calvinistas ensinam que não existe tal
coisa como sucessão apostólica, que passa a autoridade de pessoa para pessoa, e
que não existe nenhuma entidade visível ou igreja que possa ser identificada como
“a verdadeira igreja”.
Infalibilidade: A Igreja Católica Romana ensina que o
papa quando falando ex cathedra, bem
como a igreja quando reunida em concílio ecumênico, nunca podem errar. Os
calvinistas negam essa declaração como sendo sem fundamento na Escritura. Escritura
e Tradição: A Igreja Católica Romana ensina que a tradição da igreja é
igualmente autoritativa com a Bíblia. Os calvinistas reservam a autoridade
suprema à Bíblia somente, observando que a tradição tem freqüentemente se
desviado da Bíblia.
Interpretação da Escritura: A Igreja Católica Romana
ensina que ela tem a palavra final com respeito a qualquer interpretação da
Escritura, tal que ninguém pode jamais corrigir a igreja sugerindo que suas
doutrinas oficiais não estão de acordo com a Escritura. Qualquer desafio à
doutrina da Igreja Católica Romana pode ser refutado por sua reivindicação à
interpretação autoritativa. Os calvinistas crêem que não existe nenhuma
interpretação humana autoritativa, e que a autoridade pertence a Deus. Para os
calvinistas, as interpretações são autoritativas somente até onde são
verdadeiras, e eles creem que a Igreja Católica Romana tem freqüentemente
interpretado a Escritura erroneamente
Livre-Arbítrio: A Igreja Católica Romana ensina que a
Queda não removeu do homem a capacidade de responder em fé ao evangelho. Os
calvinistas crêem que a Queda removeu essa capacidade, e que sempre quando uma pessoa
chega à salvação é porque Deus renovou o coração dessa pessoa para responder
positivamente em fé (João 6:44; Atos 16:14; Rm. 8:1-8). Contudo, as pessoas não
são salvas pela doutrina ou por seu conhecimento dela
(uma forma de Gnosticismo).
Alguns dentro da ICR (Igreja Católica Romana) são
cristãos.
Eles foram salvos pela graça somente, a despeito do que
eles alegam ou a denominação deles crê. Lembre-se que a definição de Ra de uma
igreja verdadeira é: “Existem muitas formas de descrever a igreja verdadeira.
Minha preferida é falar dela como o corpo que contém o remanescente fiel. A
fidelidade, por sua vez, não é avaliada por pureza de doutrina. Mais adiante
ele declara: “Além do mais, embora as Igrejas Católica Romana e Ortodoxa
Oriental ensinem muitas falsas doutrinas,
e obscureçam o evangelho fazendo isso, elas não destroem o evangelho ao ponto
de nada do puro evangelho permanecer em sua pregação, ou ao ponto de nenhuma
pessoa poder ser salva ouvindo a sua pregação. Creio que existem indivíduos
salvos nessas duas igrejas, significando que as duas comunidades contêm parte
do remanescente. De acordo com a definição da igreja verdadeira empregada em
meu primeiro parágrafo, essas duas igrejas podem ser qualificadas como
‘verdadeiras’”. Mesmo João Calvino declarou: “O nome de Deus é de fato chamado indiscriminadamente
sobre todos, que são considerados seu povo. Como foi anteriormente dado à toda
a semente de Abraão, assim é nesses dias conferido sobre todos os que são consagrados
ao seu nome pelo santo batismo, e que ostentam serem cristãos e filhos da Igreja;
e isso pertence até mesmo aos Papistas” (Calvin's Commentaries, 1539 Latin,
Baker Book House English reprint [1850] 1993, Vol. 9, p. 285). Outro excelente
erudito Reformado, Francis Turretin, define a
essencialmente verdadeira igreja como tendo uma marca, a saber, a
profissão do Cristianismo e a verdade do evangelho.
A Igreja de Roma pode ser considerada sob uma dupla visão
(schesei); ou como Cristã, com respeito à profissão do Cristianismo e da
verdade do Evangelho que ela retém; ou Papal, com respeito à sujeição ao papa,
e corrupções e erros capitais (na fé bem como na moral) que ela tem misturado e
construído sobre aquelas verdades em adição e contrariadamente à Palavra de
Deus. Podemos falar dela de formas diferentes. No primeiro respeito, não negamos
que haja certa verdade nela; mas no último (sob o qual ela é considerada aqui)
negamos chamá-la de cristã e apostólica, mas sim de anticristã e apóstata
(Francis Turretin,Institutes of Elenctic Theology, 1696 Latin, Presbyterian and
Reformed Publishing English translation, 1997, Vol. 3, p. 121).
Assim, com Turretin a Igreja de Roma (que retém a marca
simples: uma profissão da verdade do evangelho) é designada uma igreja
verdadeira quando comparada aos pagãos.
Turretin, como Calvino, está dizendo que na Igreja
Católica Romana permanece uma possibilidade de salvação que não é verdadeira
num grupo pagão, e nesse sentido ele está disposto a chamá-la de uma igreja
cristã, uma igreja essencial verdadeira ou uma igreja verdadeiramente
constituída. Por outro lado, Turretin deixa claro que quando considera a Igreja
Católica como Papal [cujo termo ele usa
diferentemente do termo Papistas de Calvino], ele a designa como uma igreja
falsa e anticristã. Note aqui, que ao distinguir entre a existência e a saúde
da Igreja de Roma, Turretin chama-a de uma igreja verdadeira (quanto à
existência) e de uma igreja falsa
(quando à saúde) ao mesmo tempo. É significante reconhecer esse ponto,
que para alguns parece como uma contradição nos escritos dos Reformadores. Uma
igreja verdadeira pode, ao mesmo tempo, ser considerada verdadeira num sentido
enquanto falsa em outro. Nesse caso, Turretin está dizendo que embora a igreja
romana seja essencialmente cristã
(esse), ela se apartou tanto de seu fundamento cristão que deve ser
chamada de falsa (bene esse). (Citado em
parte no livro The Covenanted Reformation Defended).
Dessa forma, concordo que existam indivíduos salvos
dentro da ICR. Em adição, é. possível estar sob uma falsa doutrina e ainda ser
salvo (Ap. 2-3). Em Apocalipse, João escreve às sete “igrejas”, muitas das
quais tinham uma falsa doutrina (à Pérgamo ele escreve: “Tenho, todavia, contra
ti algumas coisas, pois que tens aí os que
sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas
diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e
praticarem a prostituição. Outrossim, também tu tens os que da mesma forma
sustentam a doutrina dos nicolaítas”. E à Tiatira, ele escreve: “Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa
mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas
ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas
sacrificadas aos ídolos”.). Uma distinção adicional também precisa ser feita
entre a igreja “visível” e “invisível”. A igreja “invisível” é aquela de todas
as eras cujos todos os membros são verdadeiramente salvos. Eles são os eleitos.
Contudo, a igreja “visível” contém tanto eleito quanto não eleito no decorrer
dos séculos. Assim, em nossa definição de uma igreja verdadeira – a visível e
denominacional - precisamos entender que existirão perdidos nela e com isso também
falsa doutrina ensinada em vários níveis.
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