domingo, 18 de março de 2012

Os Católicos podem ser Salvos?

De Monergismo



Joseph R. Nally

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1

Pergunta:

Eu estava lendo o artigo “Qual é a Igreja Verdadeira” em seu website, e fiquei realmente boquiaberto de você dizer que os católicos romanos são parte da igreja verdadeira, embora a doutrina deles possa estar incorreta… a doutrina DELES não é a bíblia, mas o que o papa interpreta… Eles adoram Maria. Oram à Maria… Estou simplesmente estupefato em ver isso como Reformado!

Resposta:
Creio que o artigo ao qual você se refere está referenciado abaixo.

Nós concordaríamos com você que existem muitas diferenças significantes entre o Calvinismo e o Catolicismo Romano. Ra McLaughlin destacou algumas grandes em outro artigo (copiado abaixo):

Fé, Obras e Justificação: O Calvinismo ensina que somos justificados pela fé, à parte das obras (Rm. 3:20-28; 4:1-5; 9:30-32; Gl. 2:16; 3:1-14), mas que uma vez que cremos com a verdadeira fé, necessariamente praticamos as boas obras como resultado (Ef. 2:8-10; Tg. 2:14,17). O Catolicismo ensina que somos justificados pela fé e pelas boas obras que emanam dessa fé (Tg. 2:21-22). O Concílio de Trento (Católico Romano) anatematizou essa visão calvinista.

Definição de Justificação:  Parte da discórdia entre os calvinistas e os católicos romanos sobre a questão da relação entre fé, obras e justificação deriva-se de um desentendimento sobre a definição de “justificar”. Os católicos romanos geralmente argumentam que justificar alguém é reconhecer que a pessoa realmente é justa. Assim, eles lêem Tiago 2:21-22 como ensinando que Abraão alcançou um ponto de justiça real quando passou pelo teste de se dispor a sacrificar seu filho Isaque em Gênesis 22. Os calvinistas, por outro lado, reconhecem duas definições para “justificar” (a maioria das palavras possuem mais de um significado), visto que ela algumas vezes significa “vindicar” ou “validar” e algumas vezes “considerar uma pessoa como se ela fosse justa, embora não o seja na verdade”. Por exemplo, quando Abraão creu em Deus, Deus considerou Abraão como se ele fosse realmente justo (Gn. 15:6), embora ele não tivesse feito nenhuma boa obra depois de crer. Os calvinistas ensinam que o único verdadeiramente justo o suficiente para ser salvo foi o próprio Cristo (Rm. 3:9-20; 5:15-19), e que Cristo compartilha seu estado de “justo” com aqueles que estão unidos a ele pela fé (Gl. 3:17-29). A primeira definição, “vindicação”, é uma que os calvinistas aplicam a Tiago 2:21-22. Os calvinistas crêem que o contexto em Tiago 2 não está contrastando, por um lado, a verdadeira fé mais as boas obras, e, por outro lado, a verdadeira fé sem obras. Antes, os calvinistas argumentam que Tiago está contrastando dois tipos de fé, uma que produz boas obras (fé verdadeira) e uma que não produz boas obras (fé falsa). “Vindicação” parece ser a melhor definição nessa passagem, de acordo com os calvinistas, pois Abraão já tinha sido reconhecido como justo quando creu em Deus em Gênesis 15 – muito antes de Deus “testar” (Gn. 22:1) sua fé. O teste era determinar se a fé de Abraão era ou não verdadeira (Gn. 22:12), não fazer com que Abraão praticasse boas obras suficientes para adquirir sua justificação.

Predestinação:  Calvinistas sustentam a visão da predestinação ensinada por S. Agostinho. Os católicos romanos sustentam uma versão modificada da visão de S. Agostinho. Especificamente, os calvinistas crêem que Deus predestinou quem ele quis predestinar, sem consideração dos méritos das pessoas predestinadas. Os católicos romanos ensinam que a predestinação foi de certa forma condicionada aos méritos daqueles predestinados.
A Igreja e a Sucessão Apostólica: Os católicos romanos ensinam que a Igreja Católica Romana é a única igreja verdadeira, e que o papa é a suprema autoridade sobre a igreja, tendo recebido sua autoridade por sucessão apostólica direta de Pedro. Os calvinistas ensinam que não existe tal coisa como sucessão apostólica, que passa a autoridade de pessoa para pessoa, e que não existe nenhuma entidade visível ou igreja que possa ser identificada como “a verdadeira igreja”.

Infalibilidade: A Igreja Católica Romana ensina que o papa quando falando  ex cathedra, bem como a igreja quando reunida em concílio ecumênico, nunca podem errar. Os calvinistas negam essa declaração como sendo sem fundamento na Escritura. Escritura e Tradição: A Igreja Católica Romana ensina que a tradição da igreja é igualmente autoritativa com a Bíblia. Os calvinistas reservam a autoridade suprema à Bíblia somente, observando que a tradição tem freqüentemente se desviado da Bíblia.

Interpretação da Escritura: A Igreja Católica Romana ensina que ela tem a palavra final com respeito a qualquer interpretação da Escritura, tal que ninguém pode jamais corrigir a igreja sugerindo que suas doutrinas oficiais não estão de acordo com a Escritura. Qualquer desafio à doutrina da Igreja Católica Romana pode ser refutado por sua reivindicação à interpretação autoritativa. Os calvinistas crêem que não existe nenhuma interpretação humana autoritativa, e que a autoridade pertence a Deus. Para os calvinistas, as interpretações são autoritativas somente até onde são verdadeiras, e eles creem que a Igreja Católica Romana tem freqüentemente interpretado a Escritura erroneamente

Livre-Arbítrio: A Igreja Católica Romana ensina que a Queda não removeu do homem a capacidade de responder em fé ao evangelho. Os calvinistas crêem que a Queda removeu essa capacidade, e que sempre quando uma pessoa chega à salvação é porque Deus renovou o coração dessa pessoa para responder positivamente em fé (João 6:44; Atos 16:14; Rm. 8:1-8). Contudo, as pessoas não são salvas pela doutrina ou por seu conhecimento dela
(uma forma de Gnosticismo).

Alguns dentro da ICR (Igreja Católica Romana) são cristãos.
Eles foram salvos pela graça somente, a despeito do que eles alegam ou a denominação deles crê. Lembre-se que a definição de Ra de uma igreja verdadeira é: “Existem muitas formas de descrever a igreja verdadeira. Minha preferida é falar dela como o corpo que contém o remanescente fiel. A fidelidade, por sua vez, não é avaliada por pureza de doutrina. Mais adiante ele declara: “Além do mais, embora as Igrejas Católica Romana e Ortodoxa Oriental  ensinem muitas falsas doutrinas, e obscureçam o evangelho fazendo isso, elas não destroem o evangelho ao ponto de nada do puro evangelho permanecer em sua pregação, ou ao ponto de nenhuma pessoa poder ser salva ouvindo a sua pregação. Creio que existem indivíduos salvos nessas duas igrejas, significando que as duas comunidades contêm parte do remanescente. De acordo com a definição da igreja verdadeira empregada em meu primeiro parágrafo, essas duas igrejas podem ser qualificadas como ‘verdadeiras’”. Mesmo João Calvino declarou: “O nome de Deus é de fato chamado indiscriminadamente sobre todos, que são considerados seu povo. Como foi anteriormente dado à toda a semente de Abraão, assim é nesses dias conferido sobre todos os que são consagrados ao seu nome pelo santo batismo, e que ostentam serem cristãos e filhos da Igreja; e isso pertence até mesmo aos Papistas” (Calvin's Commentaries, 1539 Latin, Baker Book House English reprint [1850] 1993, Vol. 9, p. 285). Outro excelente erudito Reformado, Francis Turretin, define a  essencialmente verdadeira igreja como tendo uma marca, a saber, a profissão do Cristianismo e a verdade do evangelho.

A Igreja de Roma pode ser considerada sob uma dupla visão (schesei); ou como Cristã, com respeito à profissão do Cristianismo e da verdade do Evangelho que ela retém; ou Papal, com respeito à sujeição ao papa, e corrupções e erros capitais (na fé bem como na moral) que ela tem misturado e construído sobre aquelas verdades em adição e contrariadamente à Palavra de Deus. Podemos falar dela de formas diferentes. No primeiro respeito, não negamos que haja certa verdade nela; mas no último (sob o qual ela é considerada aqui) negamos chamá-la de cristã e apostólica, mas sim de anticristã e apóstata (Francis Turretin,Institutes of Elenctic Theology, 1696 Latin, Presbyterian and Reformed Publishing English translation, 1997, Vol. 3, p. 121). 
Assim, com Turretin a Igreja de Roma (que retém a marca simples: uma profissão da verdade do evangelho) é designada uma igreja verdadeira quando comparada aos pagãos.

Turretin, como Calvino, está dizendo que na Igreja Católica Romana permanece uma possibilidade de salvação que não é verdadeira num grupo pagão, e nesse sentido ele está disposto a chamá-la de uma igreja cristã, uma igreja essencial verdadeira ou uma igreja verdadeiramente constituída. Por outro lado, Turretin deixa claro que quando considera a Igreja Católica como  Papal [cujo termo ele usa diferentemente do termo Papistas de Calvino], ele a designa como uma igreja falsa e anticristã. Note aqui, que ao distinguir entre a existência e a saúde da Igreja de Roma, Turretin chama-a de uma igreja verdadeira (quanto à existência) e de uma igreja falsa  (quando à saúde) ao mesmo tempo. É significante reconhecer esse ponto, que para alguns parece como uma contradição nos escritos dos Reformadores. Uma igreja verdadeira pode, ao mesmo tempo, ser considerada verdadeira num sentido enquanto falsa em outro. Nesse caso, Turretin está dizendo que embora a igreja romana seja essencialmente cristã  (esse), ela se apartou tanto de seu fundamento cristão que deve ser chamada de falsa  (bene esse). (Citado em parte no livro The Covenanted Reformation Defended).

Dessa forma, concordo que existam indivíduos salvos dentro da ICR. Em adição, é. possível estar sob uma falsa doutrina e ainda ser salvo (Ap. 2-3). Em Apocalipse, João escreve às sete “igrejas”, muitas das quais tinham uma falsa doutrina (à Pérgamo ele escreve: “Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que  sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição. Outrossim, também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicolaítas”. E à Tiatira, ele escreve:  “Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos”.). Uma distinção adicional também precisa ser feita entre a igreja “visível” e “invisível”. A igreja “invisível” é aquela de todas as eras cujos todos os membros são verdadeiramente salvos. Eles são os eleitos. Contudo, a igreja “visível” contém tanto eleito quanto não eleito no decorrer dos séculos. Assim, em nossa definição de uma igreja verdadeira – a visível e denominacional - precisamos entender que existirão perdidos nela e com isso também falsa doutrina ensinada em vários níveis.


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