quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O Ódio de Deus



Kyle Baker



Tradução: Rogério Portella




É comum ouvir-se hoje nas igrejas a respeito do amor de Deus. Porém,

coisa raríssima é encontrar o ódio de Deus como tópico de debate. Quando isso acontece, usa-se certo adágio para princípio de conversa: "Deus odeia o

pecado, mas ama o pecador!". Pergunte à maioria dos crentes professos a

respeito do ódio de Deus e eles lhe responderão de modo similar.

Examinemos as Escrituras para ver se isso é verdade!

Inicialmente, permita-nos responder a pergunta: "Deus odeia o

pecado?".

Hebreus 1.8, 9: "Mas a respeito do Filho, diz: 'O teu trono, ó Deus,

subsiste para todo o sempre; cetro de eqüidade é o cetro do teu

reino. Amas a justiça e odeias a iniqüidade; por isso Deus, o teu

Deus, escolheu-te dentre os teus companheiros, ungindo-te com

óleo de alegria' ".

O escritor de Hebreus cita uma passagem de Salmos e a aplica ao

Senhor Jesus Cristo. É claro que Deus ama a justiça e odeia a impiedade.

Portanto, Deus odeia o pecado! Isto também é afirmado em outras passagens:


Provérbios 6.16-19: "Há seis coisas que o SENHOR odeia, sete coisas que ele

detesta: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam

sangue inocente, coração que traça planos perversos, pés que se

apressam para fazer o mal, a testemunha falsa que espalha

mentiras e aquele que provoca discórdia entre irmãos".

Estas — é claro — não são as únicas coisas que Deus odeia; elas são

apenas uma pequena lista. Podemos dizer "amém", de coração, à primeira

parte do adágio sob exame: "Deus odeia o pecado".

Permita-nos responder a pergunta: "(Mas) Deus ama o pecador?".

Salmos 5.3-7: "De manhã ouves, SENHOR, o meu clamor; de

manhã te apresento a minha oração e aguardo com esperança. Tu não és um Deus que tenha prazer na injustiça; contigo o mal não

pode habitar. Os arrogantes não são aceitos na tua presença; odeias todos os que praticam o mal. Destróis os mentirosos; os assassinos e os traiçoeiros o SENHOR detesta. Eu, porém, pelo teu grande amor, entrarei em tua

casa; com temor me inclinarei para o teu santo templo".

O salmista diz que Deus "odeia todos os que praticam o mal" e que ele

detesta "os assassinos e os traiçoeiros". Aqui Deus odeia o próprio pecador, não só seus pecados. Repare no contraste: Deus odeia o praticante do mal,

mas ama o salmista com "grande amor".


Salmos 11.4-7: "O SENHOR está no seu santo templo; o SENHOR

tem o seu trono nos céus. Seus olhos observam; seus olhos

examinam os filhos dos homens. O SENHOR prova o justo, mas o

ímpio e a quem ama a injustiça, a sua alma odeia. Sobre os ímpios ele fará

chover brasas ardentes e enxofre incandescente; vento ressecante é o que

terão. Pois o SENHOR é justo, e ama a justiça; os retos verão a sua

face".

Percebemos que a alma de Deus odeia quem ama a injustiça, e sobre tais

pessoas ele derramará brasas ardentes e enxofre incandescente como castigo

eterno. Repare também aqui que Deus odeia o ímpio, mas ama o justo!

Romanos 9.10-16: "E esse não foi o único caso; também os filhos

de Rebeca tiveram um mesmo pai, nosso pai Isaque. Todavia, antes

que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má — a fim de

que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse, não por obras, mas por aquele que chama — foi dito a ela: 'O mais velho servirá ao mais novo'. Como está escrito: 'Amei Jacó, mas rejeitei [gr., odiei] Esaú'. E então, que

diremos? Acaso Deus é injusto? De maneira nenhuma! Pois ele

diz a Moisés: 'Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei

compaixão de quem eu quiser ter compaixão'. Portanto, isso não depende do

desejo oudo esforço humano, masda misericórdia de Deus".

Antes de Jacó e Esaú terem nascido e antes de eles terem feito o bem ou

o mal, Deus já fizera a escolha de quem amaria e de quem odiaria. Isso

aconteceu exclusivamente para que o bom propósito de Deus e seus atributos pudessem ser conhecidos (Rm 9.17-23). O amor e o ódio de Deus não dependem da "vontade humana", mas apenas de Deus. Por ser o supremo governante e criador do universo, é natural que Deus tenha o direito de

escolher a quem amar e a quem odiar.


Portanto, o adágio "Deus odeia o pecado, mas ama o pecador", segundo

a Bíblia, é falso. A afirmação encontrada na Escritura a respeito do ódio de Deus pode causar duas reações em quem a ouvir. Ela é capaz de endurecer o

coração de modo a quem alguém diga: "Como o Deus descrito pela Bíblia pode ser justificado ao agir dessa forma?". Essa pessoa também é capaz de pensar:

"Não posso servir a um Deus que não ama todas as pessoas", ou talvez: "Nunca

fiz nada de mal para merecer o ódio de Deus". Além disso, outras pessoas afirmarão sua incapacidade de julgar a Deus dessa forma (Rm 9.20). Eles

percebem que a Palavra de Deus é a descrição verdadeira de Deus, e que esses

atributos de Deus devem ser aceitos. Na verdade, eles não devem ser só aceitos, mas devem ser motivo de júbilo; porque este é Deus, e precisamos nos

regozijar na verdade de sua revelação!

As passagens acima fazem distinção entre o ódio e o amor. Deus odeia

quem pratica o mal, mas ama o salmista. Deus odeia o ímpio, mas ama o justo. Deus odeia Esaú, mas ama Jacó. Qual é a diferença? Como um pode ser ímpio e

o outro justo? A diferença é Jesus Cristo e sua obra realizada na cruz. Por

causa do sangue de Cristo vertido, os eleitos de Deus são declarados justos

(Rm 5.9). A diferença não é questão de quem peca e de quem não o faz, por

que não há diferença; todos pecaram e estão destituídos da graça de Deus

(Rm 3.22,23). A diferença é Jesus Cristo, e apenas ele!

Deus não ama e odeia as pessoas. Elas são amadas ou odiadas — esses

são pensamentos opostos na Escritura. Quem foi comprado por Jesus Cristo

na cruz jamais foi odiado por Deus. Vimos que a Escritura afirma o ódio de Deus pelo pecador, mas aquele por quem Cristo morreu nunca é considerado

pecador aos olhos de Deus. Ele foi eleito e amado em Cristo desde antes da

fundação do mundo (Ef 1.4,5). Quando Deus olha para seus filhos (aqueles a

quem ele escolheu amar), ele não os odeia porque sua inocência foi assegurada

pelo Senhor Jesus Cristo.


Efésios 2.4, 5: "Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo

grande amor com que nos amou, deu-nos vida com Cristo,

quando ainda estávamos mortos em transgressões — pela graça

vocês são salvos".

Repare no que Paulo diz: Deus ama os eleitos mesmo quando estavam

mortos em transgressões. (Em outras palavras, quando eles chafurdavam no

pecado, antes de serem regenerados.) É responsabilidade de toda pessoa

pesquisar as Escrituras e descobrir se ela é um filho amado de Deus, ou se ela

se encontra entre aqueles que Deus escolheu odiar. Um se regozijará com a

revelação de Deus, o outro endurecerá o coração contra a verdade.

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